O câncer de pele é muito comum no Brasil e ocorre devido ao excesso de exposição aos raios ultravioletas do sol. Ele responde por 33% de todos os diagnósticos da doença no país.
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) registra cerca de 185 mil novos casos a cada ano.
A passagem pelo mês de dezembro, com seu laço laranja no calendário da saúde, é um lembrete importante para os riscos de desenvolvimento do câncer de pele.
A Sociedade Brasileira de Dermatologia realiza todos os anos a campanha Dezembro Laranja, com a divulgação nas redes sociais e mutirões de atendimento à comunidade.
A informação segue compartilhando conscientização e salvando vidas. Foi pelas redes sociais, em setembro, que a jornalista e apresentadora Marília Gabriela publicou um depoimento no qual relata como descobriu que estava com câncer de pele.
Ela conta que a doença deu seu primeiro sinal, despretensioso a olhos leigos, na forma de uma espinha no nariz, que segundo a jornalista, “não saía nunca”.
Ao procurar um médico e passar por exames aprofundados, Gabi foi diagnosticada com carcinoma basocelular, tipo de câncer de pele mais comum na população.
Para retirar o tumor, a apresentadora foi submetida a um procedimento chamado de Cirurgia Micrográfica de Mohs.
Moderna e de alta precisão, a técnica é adotada para o tratamento dos tipos mais frequentes de câncer de pele. A área afetada é retirada por camadas, que são examinadas por microscópio, no momento da cirurgia.
O procedimento possibilita a remoção total do tumor, garantindo altas chances de cura e preservando a pele saudável localizada no entorno da lesão.
Na entrevista a seguir, o médico dermatologista Paulo Rodrigo Pacola, professor na residência de Dermatologia do Hospital Universitário Júlio Müller, explica os cuidados com a pele para prevenir a doença e, quando ela está estabelecida, em quais casos a Cirurgia Micrográfica de Mohs é indicada e seus benefícios.
O sol é bom, mas a exposição excessiva, sem os cuidados necessários, pode resultar em um câncer de pele no futuro. Como identificar o câncer de pele e qual o risco da doença ocorrer quando já houve caso na família?
Paulo Rodrigo Pacola: O câncer de pele pode aparecer em qualquer idade. Ele pode ser classificado em não melanoma e melanoma. Os mais frequentes cânceres de pele surgem da exposição cumulativa solar (quantidade de sol) durante a vida. Antigamente, os cânceres de pele costumavam aparecer em torno dos 50 anos. Hoje, já temos casos em que eles surgem em pessoas na faixa etária de 25 a 30 anos. Isso é reflexo de questões culturais e profissionais sem proteção apropriada. Quanto maior for a exposição solar sem proteção, mais precoce e maiores as chances da doença aparecer. Não por acaso, as áreas expostas do corpo (face, pescoço, braço, perna e mãos) são os lugares onde o câncer de pele mais surge, por estarem mais expostos ao sol. Outra orientação é observar aquela mancha ou pinta que possui desde quando nasceu. Caso haja modificação de seu aspecto, seja em tamanho, cor ou forma, ela precisa ser examinada. Não importa a idade. Não importa se tem ou se não sintomas. Em contrapartida, qualquer lesão de pele que não existia e que surgiu no corpo também precisa ser avaliada, porque o câncer de pele, habitualmente, não tem sintomas e por isto não existe uma característica única que garanta que a lesão que apareceu seja um câncer de pele ou não.
Uma das técnicas utilizadas para tratar o câncer de pele é a Cirurgia Micrográfica de Mohs. Ela foi desenvolvida pelo Dr. Frederich Mohs, nos Estados Unidos, na década de 30. Devido à eficácia, o procedimento rompeu fronteiras e chegou ao Brasil. O que é a Cirurgia Micrográfica de Mohs e quando ela é indicada?
Paulo Rodrigo Pacola: A Cirurgia Micrográfica de Mohs é uma técnica utilizada para o tratamento de câncer de pele. Ela tem como principal vantagem avaliar 100% da margem cirúrgica, enquanto na cirurgia convencional apenas 1%, ou até menos disso, é avaliado. Uma vez avaliada 100% das margens, a técnica permite retornar ao campo cirúrgico, no momento da cirurgia, para remover possíveis locais onde a doença tenha “sobrado” no paciente, aumentando a chance de cura e evitando o reaparecimento e até mesmo metástase. A principal indicação dessa técnica cirúrgica é para câncer nas áreas mais delicadas do corpo, como face, pescoço, mãos e pés. Além disso, pode ser que a técnica traga um dano cirúrgico menor ao paciente, com resultado funcional e cosmético melhor.
Quais são as vantagens da técnica da Cirurgia Micrográfica de Mohs no tratamento do câncer de pele em comparação à cirurgia convencional?
Paulo Rodrigo Pacola: Dos cânceres de pele não melanoma, os mais comuns são o carcinoma basocelular e o carcinoma espinocelular, que correspondem a 90% de todos os cânceres de pele. Existem outros cânceres de pele não melanoma, casos nos quais a técnica também pode ser utilizada, mas, no dia a dia, eles são bem menos frequentes. As vantagens da técnica com relação à cirurgia convencional é poder avaliar as margens cirúrgicas do câncer de pele, no momento em que se está operando. Por este motivo, a margem de segurança retirada é menor que na cirurgia convencional, podendo gerar um dano menor. Uma vez comprometida esta margem, a reabordagem cirúrgica é feita no mesmo momento e somente o local onde restou doença é reoperado, poupando pele saudável. Na cirurgia convencional, se for necessário reoperar, será necessário retirar toda margem por não se saber em qual ou quais pontos restou doença.
Quais as chances de cura com o emprego dessa técnica? Após o procedimento, é necessário acompanhamento médico?
Paulo Rodrigo Pacola: Na Cirurgia Micrográfica de Mohs a chance de cura em uma lesão de câncer de pele, que não tenha sido tratado previamente, é de 97% a 98%. Enquanto, esta mesma lesão, sendo tratada com uma cirurgia convencional, apresenta chance de cura em torno de 85% a 90%. Agora, quando se tem um câncer de pele que já foi operado e que retornou, a chance de cura pela cirurgia micrográfica cai um pouco, ficando em torno de 90%, porque se a doença voltou isto já indica que ela é mais agressiva. Já no tratamento de recidiva com uma cirurgia convencional, a chance de cura é de 75% a 80%. Importante: Uma vez que se tenha tido um câncer de pele, independente de qual seja o tipo ou o tratamento utilizado, seja ele cirúrgico ou não, há necessidade de acompanhamento médico por no mínimo cinco anos.
Estamos no verão, época em que aumentam as atividades ao ar livre, além da exposição ao sol nas piscinas, rios e lagos. Quais são os cuidados para prevenir o câncer de pele?
Paulo Rodrigo Pacola: Como o câncer de pele tem relação direta com o efeito cumulativo do sol é necessário que o cuidado seja diário, com uso de protetor solar. Cuidados extras no trabalho e no lazer também devem ser tomados. A utilização de acessórios como chapéu, óculos de sol, roupa de manga longa, calça, saias e bandana para proteção é importantíssima. Na escolha do protetor solar, quanto maior o fator de proteção (FPS 60 ou mais), melhor a proteção. Independente da potência do protetor, deve ser reaplicado a cada 4 horas. Mas atenção: não é só no verão que o sol vai ser culpado pelo surgimento de um câncer de pele. Isto ocorre desde que nascemos e na exposição diária nos afazeres cotidianos. O dano será maior quanto mais tempo ficarmos exposto à radiação ultravioleta durante a vida e nos horários em que ela for mais intensa, entre 9h e 16 horas. Como o efeito é acumulativo, a dica é se proteger sempre, da melhor maneira possível e evitar a exposição ao sol nos piores horários do dia.