CAMILA RIBEIRO – DA REDAÇÃO
A Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) afirmou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se utilizou de questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para “criminalizar” o agronegócio brasileiro.
O primeiro dia de provas ocorreu no domingo (5) e, ao menos três questões da prova, estão sendo alvo de críticas de entidades ligadas ao setor.
“A Famato vem a público manifestar sua indignação ao Governo Federal pela utilização do Enem – uma ferramenta educacional com o propósito de avaliar a qualidade do ensino médio e preparar estudantes para o ensino superior – como meio para criminalizar o setor essencial para a segurança alimentar mundial, o Agronegócio”, destacou a Famato, em trecho da nota.
Segundo a entidade, o exame trouxe, destemidamente, ataques ao agronegócio e críticas ao capitalismo, além de demonstrar falta de conhecimento técnico e o despreparo dos entes envolvidos na elaboração da prova.
“Estamos falando de uma prova que avalia e prepara estudantes para ingressarem no ensino superior. E qual o perfil dos profissionais que queremos formar? De qual educação estamos falando? Enquanto Federação, representante legal dos produtores rurais de Mato Grosso, nos sentimos desrespeitados e injustiçados com tamanha imoralidade”, destaca a nota.
Uma das questões alvo da polêmica, a de número 71 (caderno azul), alerta para o “avanço da soja” na Amazônia, que seria responsável pelo desmatamento do bioma, e responsabiliza “grileiros, madeireiros e pecuaristas”.
Conforme o gabarito extraoficial divulgado pelo MEC, a resposta que melhor explica o problema é a “apropriação de terras devolutas, por esses agentes”.
“Absurdo! Essa afirmação mostra a ausência de conhecimento e embasamentos relacionados às cadeias produtivas do agronegócio. A questão é uma prova física da ignorância e desrespeito com o setor e com a sociedade de modo geral”, comentou a entidade.
Dados de MT
Ainda na nota, a Famato citou que, somente em Mato Grosso, de acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), os produtores são responsáveis por preservar 43,6% do estado, que ainda detém 15,4% de seu território composto por terras indígenas e 5,5% por unidades de conservação, o que totaliza 64,5% do solo estadual preservado.
Apenas 32,7% do solo de Mato Grosso é destinado ao uso agropecuário, sendo 19,8% para pastagens e 12,9% para agricultura.
“Analisando o bioma Amazônia, dos 48,65 milhões de hectares, 44,78% são preservados pelos produtores. Em seguida, a maior utilização é com pastagem (20,38%) e Terra Indígena (17,80%). Nesse bioma, a área voltada para agricultura representa apenas 11,13%. O novo código florestal diz que as propriedades rurais devem preservar no mínimo 80% do bioma, além de Áreas de Preservação Permanente (APP)”, destacou a Famato.
“Caráter tendencioso”
A entidade também criticou a questão de número 89, que trata da atuação do agronegócio no Cerrado.
O texto traz fatores negativos do setor, como a “violência simbólica, a superexploração, as chuvas de veneno e a violência contra a pessoa”. As cinco alternativas disponíveis para resposta contêm outros elementos negativos que estariam relacionados com o agro.
“A questão apresenta um caráter tendencioso que contraria e distorce a lógica e a realidade, como, por exemplo, o termo ‘mecanização pesada’. Cada vez mais as técnicas e práticas conservacionistas advindas do plantio direto, associado a crescente utilização de bioinsumos e do manejo integrado de pragas refuta a colocação dos autores do artigo e da banca formuladora das questões”, acrescenta a nota.
Por fim, a Famato citou a importância do agronegócio no país, que representa 24,8% do PIB nacional, sendo, portanto, “uma mola propulsora para o desenvolvimento, para geração de emprego e renda e melhores condições de vida aos cidadãos”.